Ontem fui mostrar ao meu corpo que quando a cabeça não tem juízo ele é que paga, mas também lhe mostramos que somos imbatíveis (quando a outra solução é ficar a dormir ao relento no meio de uma serra).
Eu e mais duas amigas, ex-amigas depois de ontem, fomos a Drave, a "Aldeia Mágica".
Se não forem Portugueses sadomasoquistas, com grande ânsia de serem espezinhados pela exaustão, certamente não sabem onde se localiza esta magnifica aldeia, esta Jovem à rasca explica-vos: quem sai do Porto e se perde uma vez, depois perde-se outra e quando acharem que está tudo bem, descobrem que se perderam a terceira vez, vão dar a Regoufe, uma aldeia em Arouca e seguindo o trilho PR14, chegam a Drave.
Embora o trilho em si comece em Regoufe, tirem a câmara fotográfica no início da viagem porque as estradas que serpenteiam a serra têm paisagens dignas de serem emolduradas. No entanto, neste carro, as viagens pelas montanhas são feitas a rezar para que não venha nenhum carro em sentido contrário e para que o carro não fuja pela ravina abaixo, logo não temos fotos dessa altura tão bonita e descontraída.
Em cima podem ver Regoufe, na descida para a aldeia pode-se ver placas que nos aconselham a estacionar o carro e ir a pé pelas ruas da aldeia. Quem avisa teu amigo é e de facto é uma aldeia anti-carros (na verdade é anti-pessoas também porque ia-me dando o badagaio a percorre-la).
A beleza do mundo rural é que entramos numa dimensão em que tudo é lindo, secalhar é porque pela primeira vez desvíamos o olhar de um ecrã e percebemos que o mundo é realmente soberbo e até a pedra no chão nos faz dizer "eina isto é magnífico" e de facto é. Depressa fomos cumprimentadas pela população que pelos meus cálculos devem ser umas 4 pessoas, mas todas nos falaram com a familiaridade e simpatia de quem vê um primo afastado. Na aldeia somos todos primos não somos?
Para cada pessoa há 3 galinhas, 4 patos e 2 perus e 5 cães a passear pelas ruas, cumprimentados todos atravessamos a pontezinha que marca o início do trilho propriamente dito, embora a sinalização deste começa na capela de Regoufe.
No início fomos logo metidas em sentido. Uma subida acentuada em que o solo eram pedras, de maneira que não só tínhamos de usar o cérebro para pedir a Deus algum oxigénio, como também tínhamos de usar a nossa álgebra do 12º ano para calcular qual a pedra mais estável para por o pé.
Depois de um workshop de cabras que nos mostraram como andar naquele terreno, lá chegamos à segunda fase do percurso.
Nesta fase o trilho é a descer com direito a um piso mais seguro e fácil.
O único problema é controlar a respiração para que as fotos não fiquem todas tremidas.
Na maioria dos blogs relativos a este trilho vão encontrar que "depressa conseguem ver a aldeia de Drave ao fundo. Neste blog da Verdade eu digo-vos: passado muitoooooo tempo, depois de uma curva à esquerda, conseguem avistar Drave lá bem ao fundinho!
Quando o virem andem mais e mais e mais e chegam à terceira fase do percurso, em que a largura da passagem diminui, o piso volta a ficar mais irregular, mas passável e entre murinhos e xistos vão chegar a Drave.
Em Drave voltamos a ser crianças, o que foi uma péssima ideia, mas que só íamos perceber no caminho de volta. A energia, gasta a trepar às casas (desabitadas) e subir por caminhos duvidosos, ia ser precisa.
Embora seja um trilho penoso de fazer no Verão, porque não há qualquer sombra durante todo o percurso, a pequena piscina natural criada ali dá vontade de voltar quando o sol estiver a queimar só para poder tomar banho naquele recanto.
O caminho de volta é o mesmo mas em nível II de dificuldade. O que antes era a descer, agora é a subir e o que era a subir era a descer, ou seja, a facilidade da segunda fase do percurso desapareceu e embora as paisagens sejam dignas de filmar o Senhor dos Anéis ali, iam ser precisos 6 filmes para que Frodo chegasse ao destino! A primeira/última fase, se o piso já era difícil a subir, imaginem a descer... as pedras podiam ser verdadeiras minas e se puséssemos o pé na errada, chegamos bem mais depressa ao fundo da ravina.
Acabado o trilho em si, não suspirem de alívio, as ruazinhas giríssimas de Regoufe, transformam-se no nosso pior pesadelo.
É TUDO A SUBIR!
A partir daqui acabaram-se as fotos, acabaram-se os sorrisos, acabou-se a diversão e acabou-se a diversão.
O café da vila deu-nos força para fazer a viagem de regresso a casa. O corpo foi recompensado com McDonalds.
Duração: demoramos 5h30
Facilidade: é perfeitamente possível, mas com queixas pelo caminho
Sinalização: o percurso é evidente
Notas: levar comida, água e é possível também levar cães.
Fomos derrotadas por Drave, mas completamente rendidas a Portugal.